Angola é um território vasto, multicultural e multi-etinico. Um país que alberga dentro de si muitas nações que disputaram e dividiram entre si o espaço territorial que hoje chamamos Angola, através dos seus reinos- o do Kongo, Ndongo, Matala, Kwanhama, Bailundo, Vié (Bié) e outros.
[1]A história missionária angolana data de cerca de cinco séculos com a evangelização católica- à reboque dos exploradores coloniais portugueses e dois séculos de evangelização protestante, tendo os primeiros missionários protestantes chegado à Angola em 1878 a S. Salvador, enviados pela Sociedade Missionária Baptista de Londres (BMS), e em 1887 inaugurada a primeira igreja protestante em São Salvador, no dia 02 de Dezembro.
Muito trabalho missionário foi feito para a evangelização do território angolano desde os missionários católicos- começando pela congregação do Espírito Santo, Missão de Lândala em Cabinda, os missionários de São José de Cluny; aos protestantes desde os missionários Baptistas de Londres, missionários Baptistas entre os kimbundu, os da Junta Americana de Comissários Para Missões Estrangeiras (ABCFM) com a evangelização no Reino do Bailundo, apenas para citar alguns.
Não podemos deixar de falar de forma alguma sobre a relevância do trabalho missionário desenvolvido por essas organizações (católicas e protestantes), porquanto a Angola que temos hoje e nós próprios somos frutos do árduo e deligente trabalho feito por elas.
O trabalho missionário em Angola se consolidou nesses lugares, e no caso das igrejas protestantes, tornaram-se regionais através do seu contexto de plantio. Este trabalho missionário passou por várias fazes e mutações devido ao contexto ao que o país passou ( luta pela independência, guerra civil, a entrada da democracia, depois vem a paz, até aos dias de hoje). As igrejas instalaram-se nos centros urbanos e suburbanos.
Volvidos cinco séculos de evangelização e missões em Angola, muito trabalho ainda há por se fazer, muitos campos por se alcançar. Embora haja presença de igrejas centanárias em lugares recônditos, as igrejas [2]“mães”ocuparam os centros urbanos e suburbanos, deixando um território vasto à míngua, desértico e sedento do Evangelho de Cristo.
É notório também a falta de cultura evangelística missionária das grandes igrejas; parece haver um sentimento de término do trabalho missionário, ainda assim a presença dessas “ igrejas grandes” é notória no país.
Por outro lado, aparece nos últimos tempos, últimos 10 anos um despertar da igreja Angolana, principalmente através das “mais novas” e “pequenas” igrejas, organizações missionárias que têm “trazido” de volta a cultura bíblica da evangelização, porém com maior ênfase a evangelização urbana, deixando desértico os campos rurais e transculturais.
Quando viajamos para o interior de Angola, vemos muitas aldeias e bairros desérticos sem igrejas, outras encontramos templos contruídos totalmente vazios onde o obreiro passa em cada três, seis meses. Há pouco investimento das igrejas angolanas nas missões transculturais e rurais, pois instalaram-se em centros urbanos e esqueceram-se que a obra missionária não está terminada ainda, e que se precisa ir mais além.
Temos nesses tempos alguns desafios a ultrapassar para nos tornarmos de facto uma nação missionária, e cito os principais:
Falta de Conscientização missionária: entende-se como a compressão, entendimento bíblico sobre missões. É débil ainda a consciência missionária da igreja Angolana. Não há ensino missionário nas igrejas. Os cristãos não têm consciência missionária, e muitos deles têm uma consciência errada sobre missões, por isso eu acredito ainda que o trabalho que estamos fazendo agora é de conscientização e mobilização missionária, porque as igrejas/pessoas se envolvem em missões no nível de entendimento (consciência) que têm sobre a mesma.
Denominacionalismo/activismo religioso: o Denominacionalismo ou individualismo é um problema grande que temos em Angola. Não há cooperação, trabalho conjunto; as pessoas não entenderam ainda só faremos mais se trabalhamos juntos. Existe muita gente a trabalhar, porém cada um no seu cantinho, dando primazia à sua denominação em detrimento do Reino de Deus. Precisamos entender que as bandeiras denominacionais são um grande impedimento nas missões, e conforme disse Patrick Johnstone e cito:“ a Igreja é maior que você pensa”. Ela é maior que os nossos projectos, maior que as nossas denominações, nosso bairro, cidade, nosso país, ela é maior não só no espaço, mas também no tempo, conforme diz o autor aos Hebreus 12:23. Temos o desafio, de colocar o Reino acima das placas denominacionais.
Ainda assim acreditamos numa mobilização missionária que Deus está fazendo em Angola com pessoas e organizações missionárias simples e humildes, cujos resultados poderemos colher nas próximas décadas.
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Pedro Kapingana : missionário, pastor evangélico, missiólogo e pesquisador
[1] Henderson L. (2001). A Igreja em Angola, um rio com várias correntes. ALEM-MAR EDITORIAL. 2 ed. Pág.46, Pág 51, parágrafo 5
[2] Igrejas mais antigas do país, ou ainda igrejas centenárias